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MÃE NA SEGUNDA GUERRA: UM CASO DE SOCORRO ESPIRITUAL

Atualizado: 17 de jun. de 2020


Por Irmã Rosália


Era uma noite alta de setembro de 1939 e uma senhora corria. A névoa caía espessamente como se a natureza quisesse abafar os miasmas de ódio daquela região e impedir o triste episódio da Segunda Guerra Mundial ou pelo menos apagar aquele acontecimento.


Transcorriam-se os dias cinzentos na Europa. O símbolo do Nazismo era um pesadelo nas ruas e ninguém ousava se expor. Varsóvia temia o pior. As tropas alemãs já dominavam alguns pontos estratégicos de toda Polônia. Em Varsóvia, naquela noite, iniciava-se uma sinfonia infernal para os que lá estavam. O barulho ensurdecedor das metralhadoras e das granadas misturava-se aos gritos abafados pelos estrondos sucessivos dos bombardeios da esquadria alemã.

Aquela senhora corria no meio do tiroteio. Algo lhe dizia que seu filho precisava dela, que sabia exatamente onde Antoni estava, pois ele era um soldado do exército polaco em Varsóvia e todos estavam entrincheirados para impedir que as tropas inimigas dominassem a cidade. Era como se aquela mulher estivesse dentro do olho de um furacão. Pelas ruas que percorria, o barulho era ensurdecedor ao lado de um cenário de desolação: construções destroçadas, corpos caídos por toda parte – alguns ainda com vida –, crianças chorando em seus berços ao lado do silêncio de seus pais. Pedidos de socorro vinham de todos os lados e seu pensamento estava fixo no seu filho, fazendo que tudo aquilo naquele momento parecesse normal para ela.


Chega finalmente ao destino. A saia que vestia estava empastada de sangue por esbarrar nos corpos caídos pelo caminho. Encaminha-se para uma galeria que servia de trincheira. Na entrada, uma barricada feita de móveis e utensílios da população. Ela olhou rapidamente os corpos caídos e despedaçados por ali espalhados e, tendo a certeza que seu filho estava ali em algum lugar, então, vasculhou palmo a palmo cada canto, desemborcando corpos sem vidas à procura de seu filho. De repente, dos escombros de uma parede caída, saiu um pedido de socorro e um grito de dor. Ela reconheceu a voz de seu Antoni. Ela agradeceu a Deus e começou a remover os escombros. Logo apareceram três corpos; o primeiro com a cabeça esmagada, o segundo com o rosto irreconhecível e, finamente, seu filho era o terceiro, aparentemente ileso, apenas em estado de choque. Para ela, Antoni era penas uma criança de dezoito anos de idade.


Aquela mãe repetia incessantemente:

– Meu Deus, meu Deus!


Ela o tomou nos braços e o acalmou dizendo:

– Calma, meu filho! Mamãe está aqui! Eu vou levá-lo para casa, pois tudo já passou! Vamos!


E ao levantá-lo pelos sovacos, nessa hora, percebeu que a perna esquerda de seu filho estava decepada, presa apenas por um pequeno pedaço de pele. O sangue começou a esguichar com o movimento de o levantar. Ela pega a faca da cintura do filho e corta a pele separando a perna do filho e, com a túnica de outro soldado, fez rapidamente um torniquete e cobriu a ferida exposta e ligeiramente o tirou dali.


Nisso, outro pelotão das forças alemãs se aproximou do local fazendo a chamada varredura. As metralhadoras voltaram a funcionar. E ela apressadamente entrou num buraco de esgoto arrastando o filho e desapareceram naquela galeria. Lá fora, a noite permaneceu sobre as espessas camadas da névoa que caía.

Na varredura, os nazistas punham fogo nos corpos e fuzilavam quem ainda estivesse com vida. Assim, iam limpando o caminho para a dominação.

As tropas nazistas procuravam sobreviventes em todo canto da cidade e fizeram centenas de soldados prisioneiros; a maioria foi fuzilada.


Quanto aos prisioneiros civis, havia uma seleção dos homens de idade mais avançada e fracos, que também foram fuzilados. As mulheres e crianças foram poupadas e encaminhadas para uma área de concentração, que mais tarde seria o maior gueto da Polônia dominada.

Antoni, seu filho, estava com muita febre e dor. A infecção era visível. Pressentido o pior, aquela mãe saiu em busca de remédio, comida e água limpa. A cidade estava deserta. Ela entrou numa casa e encontra algumas pílulas e um pouco de comida; recolheu-os e voltou correndo para onde estava seu filho a fim de lhe dar o remédio, porém, ao retornar, seu filho estava morto...


Ela chorou copiosamente e prometeu vingar-se. Cobre o corpo do filho com alguns trapos de pano, e saiu em busca de ajuda, mas é logo presa e levada a um campo onde se reunia centenas de outras mulheres e crianças. Permaneceu lá numa condição subumana por um bom tempo. Até que veio o anúncio: as autoridades alemãs estavam selecionando mulheres para o serviço de costura, cozinha e enfermagem. Receberiam em troca, comida e alojamento. Esse voluntariado era obrigatório sob o peso de severas punições, e todas as crianças do campo seriam levadas para um abrigo de proteção até segunda ordem.


E ali foram os momentos mais angustiantes para aquelas mães, pois seus filhos foram arrancados de seus braços sob intensos prantos. E para acalmar as crises de histerismo das mães, cinco crianças foram fuziladas em público. O medo dominou as emoções de todas e, assim, começou a separação das mulheres para os trabalhos propostos. Ela foi selecionada para o grupo de mulheres mais velhas que não precisariam trabalhar. Ficou decidido que as mais jovens fariam o serviço por elas. Assim, elas foram recolhidas em um alojamento especialmente construído para elas. No entanto, lá chegando, foram encaminhadas para um banho coletivo, e foram asfixiadas pelo gás letal colocado no lugar da água.


Após o banho letal, essa mãe – sem entender o que aconteceu, pois tudo foi tão rápido que no seu campo mental a cena foi registrada como sendo um banho normal – vestiu depressa sua roupa e saiu correndo dali, ocultando-se das vistas dos guardas. Seguiu em direção onde tinha deixado o corpo de seu filho.

Ao chegar, percebeu que seu filho estava sentado junto a um corpo em putrefação; então ela pensou que ele estivesse vivo. Ele a reconheceu e iniciaram aquele encontro com um grande abraço entre muitas lágrimas. Ela percebeu que a perna amputada continuava a sangrar muito. E o convidou a saírem dali e procurarem ajuda; e, saíram com cuidado para não serem vistos pelos soldados inimigos. Foram parar na porta de um hospital de campana, onde foram atendidos por um enfermeiro.


O corredor estava repleto de macas com soldados feridos. Enfermeiros ministravam os primeiros socorros. Logo chegou um médico acompanhado de uma enfermeira, que trazia no uniforme uma cruz no peito, e começou a enfaixar a perna do jovem soldado Antoni e aplicou-lhe um sedativo para dormir. O médico chamou aquela mãe e lhe disse:


– A senhora descanse um pouco, logo chegará outra equipe, que vai conduzi-los par um hospital maior e com mais recurso.

Aquela mãe perguntou:

– Mas o senhor é um alemão, quem me garantirá que o senhor não está nos levando para a morte?

– Senhora, o fato de sermos alemães não quer dizer que estamos todos a favor dessa carnificina desumana. A senhora é judia, no entanto não tem nada a ver com o que lhes acusam, certo?

– Qual o seu nome doutor? perguntou a mãe.

– Pode me chamar de Fritz, um seu irmão! Estou a serviço de nosso governador espiritual que é Jesus, e para ele não existe embargo de nacionalidade, de raças, de credos religiosos ou qualquer outra coisa, pois todos somos irmãos...

– Posso perguntar qual a sua religião, doutor?

– Eu pratico a religião do amor. Para mim, o rótulo religioso não me importa e sim a prática do amor! Agora descanse, logo tudo estará bem.

– Doutor, meu filho estava morto e depois viveu, como se explica isso?

– Jesus também estava morto e depois reviveu!

– Mas ele ressuscitou – disse a mãe.

– A morte, minha querida mãe, é somente do corpo, a alma não morre jamais, somos imortais.

– Quer dizer que eu e meu filho somos almas?

– Sim, vocês são espíritos desencarnados. Estão com outros corpos, mais sutis e sem as necessidades de antes para sobreviverem.

– Quer dizer que aqui não tem guerra?

– Não, filha! A guerra que tem aqui é para combatermos o mal que existe dentro de nós, e não para abater o ser humano! Nossa luta é para amá-los! Isto é servir a Jesus. Agora, perdoe-me, mas tenho que ir, tem muito trabalho lá fora.

– Doutor, muito obrigada!

– Não me agradeça, senhora, apenas ame seu filho e cuide dele como sempre cuidou. E não se esqueça de agradecer a Jesus pelo amor e pela misericórdia dele, e o ame também. Isso basta!


E assim, o médico desaparece no meio dos gritos de dor que se ouvia naquele imenso salão. Mais tarde, o Dr. Fritz viria parar aqui no Brasil, continuando a tarefa de médico do Cristo, cuidando de feridas e dores e direcionando corações flagelados ao regaço de nosso Pai Celestial, em nome de Jesus!

PALAVRAS DA AUTORA ESPIRITUAL

Dr. Fritz hoje representa uma legião de trabalhadores a serviço de Jesus, sem embargos de fronteiras, pois somos todos irmãos nessa grande família na terra. Muito constrangido, ele me permitiu falar um pouco sobre ele, desde que não nos preocupemos com sua biografia, mas para seguirmos o seu exemplo de trabalho e dedicação ao ser humano que sofre as grandes provas da dor. Temos ao nosso lado tantos irmãos encarnados precisando de uma mão amiga. “Faça isso por Jesus, nosso modelo e guia”, recomendou Dr. Fritz.


Peço a Deus que abençoe essa alma paternal, que é chamada por todos que sofrem e nunca deixa de atender a ninguém, mesmo que tenha de esperar a criatura durante o repouso do corpo físico, pois ele está sempre presente como um pai diligente. E o que mais ele ouve é: "Dr. Fritz, eu vim lhe pedir...".


Eu também vim a ti irmão, como uma irmã em Cristo te saudar, com meu apreço e carinho. É uma honra trabalhar contigo em nome de nossa Mãe Santíssima e do nosso Mestre Jesus. Represento aquela mãe de Varsóvia que já está encarnada na pátria brasileira com anseio de em breve receber seu filho querido para continuarem a marcha evolutiva interrompida pela bestialidade humana quando recorre à guerra para solucionar seus problemas. Como disse Jesus no seu Evangelho: “Ai daqueles por quem o escândalo vier”, afirmando que escândalo ainda é necessário na terra, portanto, Deus encontra nos escândalos ocasiões propícias para que os escandalosos do pretérito se redimam com a lei divina burlada.


A razão pela qual escolhi essa história é que conheci pessoalmente essa mãe e seu filho. Eu a acompanhei de perto, pois ela foi acolhida por nossa equipe de socorristas, que estava designada para trabalhar naquela região, devido aos grandes números de suicídios que ocorriam naqueles campos. O objetivo foi mostrar que a violência ali praticada contra o ser humano foi no mínimo insana. E mostrar também como foram acolhidas as vítimas desse holocausto.

Abraço a todos.

Irmã, Rosália.

Psicografia de Jorge Couto, em 18/09/2011, e completada em 08/03/2019.

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